Central do Brasil e Fernanda Montenegro






'Central do Brasil' * é um filme brasileiro que não esqueço. Com o apoio de uma bonita música e a reunião de um time de artistas muito eficazes, na frente e por trás da câmera, a emoção é o fio condutor desta estória muito original. 

Ao longo da estória, o pragmatismo, o ceticismo e a amargura da personagem feminina principal, Dora, vão perdendo espaço para a empatia, dela para com Josué, a criança que perde a mãe, e agora só e desprotegido, busca pelo pai, que ele nem conhece, mas supõe viver no Nordeste do Brasil. 

O sentimento de empatia vai naturalmente lapidando Dora, a professora aposentada e "escrevedora" de cartas na Central do Brasil, que cobra por cartas, as quais ela, desonestamente, nunca remete. Gente ludibriada, mensagens interceptadas e sentimentos alheios retidos nas gavetas de Dora. 

A empatia impulsiona Dora a arriscar-se, aventurar-se por Josué, e rumarem ao Nordeste, à procura de seu pai. A empatia vai libertando Dora da acidez das suas emoções e sentimentos, e auxilia no resgate da ternura pelo outro, da sua feminilidade e de suas lembranças de seu pai, do tempo de criança, que pareciam adormecidos até então. 

A face cruel da criminalidade, às vezes retratada em demasia em filmes brasileiros, é o entorno desta ficção, mas sutilmente, para contar a saga de Dora e Josué, e faz sentido estar ali, porque tende a ser a realidade de quem vive esta estória no quotidiano.

Fernanda Montenegro é a atriz que dá vida à Dora. Ela costura as emoções de Dora verdadeiramente, sem exageros, com precisão. Mereceu as muitas indicações e prêmios recebidos por essa obra, merecia ainda mais.  



* A primeira parte do filme se passa na Central do Brasil, a famosa estação de trens que faz a ligação entre a região central do Rio de Janeiro e os bairros de subúrbio e outros municípios da Grande Rio de Janeiro.









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