Cartola, quando a natureza vence o meio






É previsível que o meio condicione hábitos, atitudes, crenças e pensamentos. O meio também cria condicionamento cultural. 

Porém, a natureza do indivíduo pode se sair vitoriosa diante do meio condicionante. A nossa natureza parece estar apenas no aguardo de uma oportunidade de experiência com a Arte, nos faz reagir às circunstâncias, ao auto-vitimismo e desperta em nós o artesão ou o apreciador, até então alijado ou dormente. 

Na ficção, na cena de ópera do filme Pretty Woman, a prostituta, nada erudita, vivida por Júlia Roberts, é capturada pela Traviata, de Verdi, em sua primeira ida à Ópera, um palco distante de sua realidade e perspectiva.  

Na vida real, um dos poemas mais bonitos que li, foi escrito por um homem simples, pedreiro, negro, brasileiro, morador da favela, que não estudou mais do que a 4a. série primária. As Rosas Não Falam é o poema, escrito por Cartola. 

Diz a "lenda" que ele chegou com rosas para a esposa, Zica. Ela as plantou no quintal da casa. Após dias, ela se surpreendeu com o desabrochar de muitas rosas. Maravilhada com a beleza e quantidade de rosas, ela correu para contá-lo. O perguntou por quê nasceram tantas rosas e ele respondeu: Não sei Zica, as rosas não falam !

As Rosas Não Falam tem uma comunhão entre a métrica, a rima e o ritmo. A simplicidade de Cartola resulta na sofisticação. 



As Rosas não falam


Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

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